Depois de passar quase uma tarde inteira com as minhas amigas, enquanto andava pela rua, sozinha e sem destino algum, fiquei com uma fome enorme e entrei na primeira lanchonete que apareceu na minha frente. Pedi meu sanduíche preferido, natural com um toque de gergelim. Sentei em uma das poucas mesas vazias, perto da janela. Uma nuvem carregada vinha do horizonte, tomando o céu. Enquanto comia, começou a chuva torrencial, com ventos fortes, varrendo a poeira da rua. Isso é o que eu mais odeio no verão daqui, chove! Com a chuva vieram várias pessoas da rua para dentro da lanchonete, se protegendo e em pouco tempo o local estava cheio. Entre todas as pessoas que entraram, eu notei uma em especial. Cauê era meu colega de classe, alto, esperto, moreno, gentil, olhos verdes levemente azulados e sorriso perfeito. Ele vestia o de sempre, uma calça jeans, camiseta surrada moletom na cintura e seu All Star azul.
Acho que ele notou minha presença, fiquei surpresa. Ele vinha na minha direção. Sentou-se na mesa, comentou do mal tempo que estava além da janela. Conversamos como se o tempo passasse por nós, eternamente naquele momento. Éramos únicos, para mim só nós estávamos ali, como se estivéssemos em um cais, na beira mar, contemplando um belo pôr do sol, com a brisa quente do verão a soprar nas faces e com os pés a dançar sobre a água morna. Era perfeito. Escureceu e Cauê decidiu me levar pra casa, seu carro estava perto dali. Corremos juntos, de mãos dadas, embaixo das marquises que nos protegiam das fortes gotas da chuva. Chegamos no carro e ele se deixou molhar segundos a mais ao abrir a porta para mim. Depois de guiá-lo pela cidade até minha rua, usando de um caminho mais longo para ficar mais tempo com ele, um calor crescia em meu peito. Quando chegamos em minha casa, a chuva havia piorado. Piorado muito! Como eu não tinha nada com o que me cobrir para ir até a porta, Cauê saiu do carro e se cobriu com o capuz de seu casaco. Deu a volta no carro e abriu a minha porta. Cauê me puxou para junto de si, me cobriu com metade do casaco e quando um relâmpago cortou o céu, eu me espremi mais contra seu corpo. Ele também me abraçou, mas não parecia ser por medo. Senti seu coração pulsando junto ao meu.
Ele deixou seu casaco escorregar pela sua cabeça e em seguida pelo seu ombro, levando junto a metade com o que eu estava me cobrindo. Quando o casaco foi ao chão, em menos de meio minuto ficamos completamente encharcados.
Cauê me virou, até que eu ficasse de frente para ele. Não sei o porquê, mas meu coração começou a bater mais forte. Ele aproximou seu rosto do meu e eu podia ouvir sua respiração por baixo do som da chuva. A chuva mais doce e quente, a chuva que escorria em nossas faces, a chuva daquele verão.